sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Grace Under Pressure - Elbow (Cast of Thousands)

Os olhos luzidios, as mãos suadas, os tremores na barriga, os dedos entrelaçados, as pernas enroscadas, o coração acelerado, os pés rígidos, o discurso sem nexo, os cabelos selvagens, as corridas alegres, os beijos quentes e os abraços sentidos, a alma limpa… o sorriso de um anjo, o toque suave, as noites em branco, as mensagens trocadas, a cama partilhada, o aconchego do sofá, o prazer que sentimos, o carinho que partilhamos, o gargalhar mais puro, o choro contido… os lábios roxos, a cabeça tonta, a lua de papel, as juras trocadas, a chama intensa… o sangue nas veias, os músculos tensos, a roupa espalhada, os berros de dor… a respiração ofegante, o peito que se toca… a paixão…

Continuamos a acreditar no amor, que se foda o resto…

Continuamos a acreditar no amor, que se foda o resto…

Continuamos a acreditar no amor, que se foda o resto…

WE STILL BELIEVE IN LOVE, SO FUCK YOU!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Ocean Spray - Manic Street Preachers (Know Your Enemy)

Não questionei o velho João – porque não devemos nunca pôr em questão quem já viveu mais experiências que nós – quando disse que "antes morrer que morrer no verão". Até achei poético, sinceramente.
Eu já o conhecia, desde pequeno. Quando chegava da escola ia visitá-lo, perguntar-lhe se precisava de alguma coisa e ele, na sua poltrona, agradecia e mandava-me tomar, como meus, os 100 escudos que todos os dias me dava. Nunca lhe perguntei se tinha tido mulher, ou um grande amor. Ele sempre disse que a sua vida eram os livros e que com eles fazia amor, sorria, desesperava e a eles tinha jurado amor eterno.
Contou-me, um dia, que tinha vestido a pele de imperador em Macau, destronando (com palavras, o velho João não era de guerras) o seu irmão mais velho. “Dei, depois, o lugar aos pobres” disse-mo ele. Ouvi alguém chamar-lhe vermelho, dias depois. Revelou-me, um dia, que se a nossa alma fosse boa e livre de pecados, seríamos depois mais leves e livres de nos deslocarmos. E quando a chuva cai por aqui, o velho João vem ter comigo, na sua longa gabardina castanha, para cheirar a terra e as flores.
Com o passar do tempo, os pulmões foram-no atraiçoando. O velho João disse-me que conseguia respirar na perfeição, mas que já não se lembrava de como o fazer. E quando o coração também quis parar, o velho João agarrou o peito – como se estivesse a agarrar a vida – e contam os meus pais que ele ainda falou com a morte. Que a repreendeu por se ter adiantado à sua vontade mas que também a congratulou, por ter coragem de lutar contra uma alma tão pura.
No Outono da sua morte, não chorei o velho João – porque não devemos nunca chorar uma vida cheia de experiências – quando a terra húmida o engoliu e misturou os dois perfumes sagrados. Até achei poético, sinceramente.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Safe - M83 (Before The Dawn Heals Us)

Tivesse o Inverno um nome, seria o teu. O aconchego do teu sorriso e a luz dos teus olhos, cristalizam os meus dias de frio. E quando a chuva, compassada, atinge o chão, não me passa nunca pelo corpo porque só sentimos o que vemos e os teus cabelos não me deixam pensar na água que jorra dos céus. Quando, nas manhãs geladas, o ar que expiro fica visível, é porque com ele te pretendo abraçar, fugir da terra orvalhada e dar um beijo por entre os cachecóis.
Mas eu sei, meu amor… eu sei que nada disto existe em ti e que são criações perfumadas da minha alma triste. E que nada em nós é inteiro, a não ser a solidão. As rosas do nosso jardim murcharam, foram engolidas pela terra e temo que não voltem a aparecer. E tu, meu amor, se por ventura em alguma dessas manhãs vires nos meus olhos a paixão que te tenho, caminha na minha direcção e aguentaremos juntos esta estação fria e melancólica.
E lembra-te… tivesse o Inverno um nome, seria o teu.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Love is Dead - Brett Anderson (Eponymous)

Ele está morto. O amor está morto.
Ele, que outrora estava num beijo, num olhar enternecedor e nos gestos próprios de quem é ingénuo, foi-se. Esgotou-se após tantas declarações. Tanto o quiseram tornar credível que ele se esfumou…
Usaram-no. Usaram-no em proveito próprio e acabaram com ele. Mascararam-no, atribuíram-lhe inúmeras formas e feitios até que ele se descaracterizasse. Mentiram-lhe, fizeram-no maior que o que era e ele cansou-se. Prometeram-lhe a eternidade e ele acomodou-se. Passaram por ele sem o ver e ele acobardou-se.
Disseram-no mais alto que o céu, mais comprido que o mar e mais longo que a noite e ele não cresceu. Correram por ele, sem que nunca tenha saído do sítio. Duplicaram-no e ele era egoísta. Pintaram-no e ele deixou de ser espiritual. Venderam-no quando ele não tinha preço.
Agora ele está morto. O amor está morto.

sábado, 6 de outubro de 2007

The Return Of the Grevious Angel - Ryan Adams (Live Is Hell)

Fazes-me mal. Quando entro em casa e atiro a chave do carro contra o armário do corredor, é em ti que penso. E quando me sento no sofá, com a luz apagada, na frente do velho rádio, é em ti que penso. Quando pego o telefone e os meus dedos marcam um número, é o teu. É em ti que penso. E as noites em branco, os dias em baixo, as friorentas tardes de Inverno e mesmo a chuva que me cai pelo corpo, é em ti que penso.


E a poeira, as luzes, as portadas de madeira, os caminhos sombrios, as garrafas vazias, as mãos esmurradas, os cinzeiros cheios, os pés cansados, a mente absorta, as canções que fiz, as pessoas que olhei... o corpo molhado, a boca queimada, a cara enrugada... e todas as estradas, meu amor, que segui... foram por ti.


Photo Jenny - Belle & Sebastian (Push Bar to Open Man Old Wounds)

Um carrossel. Vamos viver toda a vida num carrossel. Usamos umas saias twee, flores na cabeça e camisolas amarelas. Sorrimos, batemos palmas e corremos um atrás do outro, como que a fugir da efeméride que a vida é. Quando nos sentirmos cansados, sentamo-nos nos ramos e comemos fruta. Um Kiwi, pode ser um kiwi, porque tem aquele ar exótico e exóticos são os nossos sentimentos. E porque é verde e disseram-nos, ainda em pequenos, que o verde era a cor da esperança. Esperança, porque já somos mais velhos e ainda não a perdemos. Escreveremos na areia um novo tipo de livro, um livro da areia, pois claro. Chamar-se-á "Amo-te vida" e porque sabemos que já o escrevemos, de nada adianta que a água o apague.